O silêncio entre os dois não incomodava Dante. Não era forçado ou inchado de raiva, de motivos. Somente sossego, a aceitação mútua de que palavras eram desnecessárias. Um não perguntava ao outro a causa da quietude, entendo que, às vezes, falar nada é a melhor opção.
Ele estava no sofá, pernas esticadas na mesinha bamba e detonada, o controle do video game no colo quando Mina apareceu visivelmente fula naquela tarde, um humor que só poderia levar a socos e pontapés. Deixa ela. E a ruiva pegou o que queria na geladeira antes de se jogar no mesmo sofá, uma bola de destruição que empurrou Dante para o lado sem qualquer cautela. Nunca esperou cuidado de ninguém, uns empurrões da Tirana não fariam mal.
Foi depois de alguns minutos com olhos colados na tv que sentiu a mudança ao redor, ainda que pequena. O ar na sala esquentava devagarinho, despercebido, pequenas ondas de cinza flutuavam até o teto distante da Devil May Cry. Fenômeno que nunca tinha visto senão no final de incêndios, quando o fogo já havia consumido tudo e todos em seu caminho arrebatador.

Tudo e todos.
Não era preciso se virar em direção a Mina para saber que a fuligem vinha dela, e mesmo assim o Vermelho se virou, encontrando a moça encostada em seu ombro, olhos - olho - fechados e a inocência do sono moldando as feições de menina. Sim, pois ela era uma jovem, mesmo com todas as merdas que falava, todas as merdas que tinha vivido e guardava trancadas no peito. Mina, mulher que chutaria sua bunda de uma ponta a outra do Inferno, mas que ainda tinha problemas controlando o próprio poder enquanto descansava. Isso explicava algumas nuances de seu comportamento.
Dante permaneceu imóvel, sem desperta-la de um sono negligenciado por tanto tempo. Se tinha confiança em adormecer ali, quem era ele para estragar tudo? Arrumou a coberta fina sob o colo dela, tirou a garrafa da mão que teimava em segurar num aperto frouxo e molenga. Descansa aí, era o queria dizer. Optou pelo silêncio, entretanto, porque ela entenderia.
Sua casa, garota. Fique o quanto precisar.
DRABBLE ESCRITA PELA EMY (A PLAYER DO DANTE)